Infinitivo e impessoal: ou o invisível e indivisível em minha pesquisa artística.
Trilhas e Rumos
Retorno ao plano pela pintura mergulhando no branco infinito e impessoal da tela, buscando respostas e formulando perguntas. Minha primeira sensação foi a de atravessar internamente minha própria retina, para fora ao mundo externo, esta película em que se projetam imagens e que separa o olho dos objetos; em seguida a sensação foi de atravessar a película que cobre o objeto da tela, em sua materialidade e continuar este mergulho em busca de outras películas dispostas atrás e através da tela.
Por associação lembrei-me do procedimento utilizado pelos seringueiros, que para extração do látex da seringueira (Hevea Brasiliensis (Wild. ex. A. Juss.) Müll. Arg.) produzem uma incisão na casca do tronco com linhas paralelas e oblíquas em relação a horizontalidade do solo.
Para iniciar o procedimento em pintura desenvolvi alguns esboços com grafite sobre papel, de características gráficas que remetem aos seringais, buscando a materialização deste conceito interagindo no plano com luz e tons, abrindo e fechando lugares entre as formas, que se distanciam e se aproximam dando a ilusão de perspectiva, com planos e subplanos, para iluminar ou escurecer o espaço da tela.
Seringraus, 2015
Grafite sobre papel
Estudos para pintura
Seringraus, 2015
Grafite sobre papel
Estudos para pintura
Este mesmo desenho produzido nos troncos das árvores pelos seringueiros replicam a estrutura geral da maioria delas, com seu eixo vertical ao centro de onde se irradiam linhas obliquas, que se organizam em movimentos ascendentes. Ao mesmo tempo o movimento gravitacional descendente provoca o escorrimento do látex, em direção a base do solo, que capturado desloca-se para o espaço onde será transformado em matéria prima para industrialização.
Seringraus, 2015
Acrílica sobre papel
Estudos para pintura
44 x 29 cm
Seringraus, 2015
Acrílica sobre papel
Estudos para pintura
44 x 29 cm
Neste instante da pesquisa defronto-me com a questão da figura fundo, no espaço bidimensional com tons e meios tons, espaços vazios e cheios, negativos e positivos. O que busco é onde me levam estes elementos, sem priorizar a figuração nem a simbologia que isso apresente.
A figura é somente um meio para chegar num campo abstrato do plano da tela. Segundo ARNHEIM (1980, pp. 217-218), “não há algo como uma imagem verdadeiramente plana”...”A situação é ambígua com mais frequência do que se poderia suspeitar.”
Seringraus, 2015
Acrílica sobre papel
Estudos para pintura
44 x 29 cm
Seringraus, 2015
Acrílica sobre papel
Estudos para pintura
44 x 29 cm
O ponto em questão pode estar no entre a figura e o fundo. Por conta disto recorro às tonalidades mais suaves, aproximando-se em intensidades e diminuindo contrastes entre si procurando o esmaecimento do branco, presente tanto no látex do interior do tronco da árvore, quanto na cor da fumaça da lenha que o aquece para mudança de estado.
Caminhos, 2015
Acrílica sobre tela
50 x 70 cm
Caminhos, 2015
Acrílica sobre tela
50 x 70 cm
Neste momento da pesquisa e como se um enevoado de nuvens surgisse deste universo imaginário que percorri, quando foi possível avistar um azulado que remeteu a um céu, este espaço infinito circundante ao planeta, cuja atmosfera ao receber os raios solares torna invisível aos nossos olhos o preto azulado do espaço com seus astros e estrelas. Ao fixar-se no azul e no cinza, aos poucos o embranquecimento provocado pelo efeito ótico pela refração da luz, remetem ao branco da tela até apagarem-se os vestígios e registros da incisão inicial.
Explorando a luminosidade da tela do computador, capturei estas imagens para a plataforma digital e com programa de tratamento de imagens trabalhei por camadas, que foram associadas e fundidas, sobrepondo-se umas as outras, ocupando o mesmo plano das transparências.
Retornando para o analógico imprimi as mesmas em acetato transparente, para visualização no espaço, sem a opacidade da parede e com luminosidade ocasional.
Caminhos, 2016
Transparências em acetado por impressão digital
28 x 20 cm
Caminhos, 2016
Transparências em acetado por impressão digital
28 x 20 cm
Utilizando o mesmo procedimento em diversos trabalhos artísticos com intuito de justapor os planos e suas estruturas internas, procuro o vazio interno e subjacente entre suas camadas, através da incisão, retirando as camadas impressas nas embalagens de papel Kraft, que desdobrou num trabalho apresentado em duas mostras coletivas: MIXÓRDIA, Mostra de trabalhos de alunos do Curso de Artes Visuais da FAV, UFG, Expolab-FAV, Goiânia, 2016; Refluxo, Vila Cultural, Goiânia, 2016.
Caminhos, 2016
Instalação
Incisão e retirada de camadas impressas de embalagens
Modulo básico: 35 x 15 cm
Caminhos, 2016
Instalação
Incisão e retirada de camadas impressas de embalagens
315 x 15 cm
O retirar das camadas de tinta, expondo a textura do papel com suas fibras é como revelar as estruturas e suas consistências, mostrando o processo de fabricação do papel através de sua organicidade, desde suas origens com suas matérias primas, passando pela celulose e diversos aditivos. A sua opacidade é diminuída, assim como a retenção da imagem impressa, devido a diminuição das suas camadas tornando a sua planura mais fina e suscetível à passagem da luz, tanto frontal como posterior, provocando uma fragilidade em sua dureza. A partir deste instante o próximo passo será em direção ao verso e seu anverso simultaneamente.